quarta-feira, 8 de junho de 2011

Educação integral


Artes marciais ocupam 800 mil estudantes em 4 mil escolas


O judô é uma das modalidades de artes marciais adotadas pelas escolas no programa Mais Educação. (Foto: Julio César Paes)










Primeiro o diálogo, depois a autodefesa. Esse é um dos princípios que o mestre Antônio Leite da Silva Júnior ensina a seus alunos nas aulas de caratê na Escola Municipal Nestor José Soeiro do Nascimento, na periferia de Manaus. Como os 60 estudantes de mestre Antonio, 828,7 mil crianças e adolescentes do programa de educação integral Mais Educação praticam um tipo de arte marcial em mais de 4 mil escolas públicas. Taekwondo, judô, capoeira e caratê são as artes marciais escolhidas pelas escolas incluídas no programa.

A Escola Municipal Nestor do Nascimento, segundo o mestre, atende estudantes de uma invasão onde as crianças estão próximas de vários tipos de violência, como tráfico, trabalho infantil, aliciamento. “Quando cheguei à escola, vi um show de notas vermelhas nos boletins. Propus a eles que para treinar caratê tinham que tirar notas azuis”, conta Antônio. Hoje, segundo ele, 80% dos estudantes que fazem a arte marcial têm notas azuis e o índice de agressão caiu muito. “É um saldo maravilhoso.”

Com duas turmas de estudantes de seis a 14 anos, Antônio ensina a história e os princípios do caratê e faz treinamento. Segundo o mestre, o caratê ajuda na concentração e auxilia no desenvolvimento físico e intelectual. Antônio tem 34 anos, treina há 29 anos, e é faixa preta desde 1996.

A diretora da Escola Municipal Nestor Nascimento, Telma Malheiros de Mendonça, diz que a entrada da escola no programa Mais Educação trouxe benefícios rápidos na vida escolar. O foco é o pedagógico, diz, e praticar caratê é um prêmio ao esforço dos estudantes. No turno oposto das aulas regulares, a diretora implantou aulas de reforço, com destaque especial para a leitura e a escrita. “Quando comecei na escola, tinha aluno no quinto ano que não sabia ler.”

Segundo a diretora, a unidade atende uma comunidade que se formou a partir de uma invasão, e hoje ainda não tem serviços básicos, como posto de saúde e delegacia de polícia. A escola é o centro de tudo e tem 930 matrículas no ensino fundamental, sendo 160 de educação de jovens e adultos, a maioria pais de alunos.

Graduada em história e matemática, com pós-graduação em psicopedagogia e metodologia do trabalho científico, Telma Mendonça criou o conselho escolar, cadastrou a escola no Mais Educação e agora vai receber um telecentro de informática e construir uma horta. Ela também quer participar do projeto Escola Aberta. Já tem livros para formar uma biblioteca, mas ainda falta uma pessoa para tomar conta do espaço e atender alunos e professores. “Já melhorou muito, mas temos muito a fazer”, diz.

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